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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Procurar Investidores para as Linhas Transmontanas

É minha profunda convicção que não vamos poder contar com estado e muito menos com actual governo para reactivar a linhas transmontanas do Corgo, Tua, Sabor e Tâmega. Também não vale a pena estar à espera do apoio dos actuais autarcas transmontanos, já que quase todos, se não todos, se venderam às promessas ilusórias do actual governo.

A única solução para tornar realidade, o sonho de voltar a ver os comboios a circular nas linhas transmontanas, seria com um projecto financiado com fundos privados.

Uma hipótese seria convencer a FEVE a investir em Portugal, expandido a sua rede para o nosso país. Contudo, e para nossa infelicidade, a rede da FEVE não se encontra perto das localidades fronteiriças, onde as linhas do Corgo, Tua, Sabor e Tâmega terminam. No entanto, não sendo um impedimento, torna difícil de convencê-los a investir. Além disso, existe outro impedimento, a FEVE ser uma empresa pública espanhola. Sabendo nós a posição do nosso governo sobre as linhas transmontanos e dada a amizade existente entre os actuais primeiros-ministros dos dois países, depressa seria vetada qualquer hipótese de viabilização de uma participação da FEVE.

A hipótese mais interessante e porventura a única que poderia de facto concretizar, seria a participação de investidores árabes. Pode à primeira vista parecer estranho, mas podem ter a certeza que não é. Fiz várias pesquisas sobre investimentos árabes, e verifiquei a abertura e a disponibilidade para investirem em projectos alternativos, como aquele que defendemos, desde que se prove a sua rentabilidade. O mais difícil é conseguir chegar ao seu contacto para fazer a apresentação de um projecto integrado para toda a região transmontana. Gosto de frisar “um projecto integrado”, pois quaisquer projectos sectoriais estarão condenados ao fracasso.

Não seria difícil de convencê-los a investir num projecto ferroviário de gestão integrada das Linhas do Corgo, Tua, Sabor e Tâmega com ligações a Espanha e às duas principais cidades do país, tendo acesso aos principais Aeroportos do país: ao Porto através da Linha do Douro, e a Lisboa através da realização do projecto da Linha de Lamego com a ligação à Linha do Vouga, reactivando o troço entre Viseu e Sernada do Vouga, permitindo a chegada a Aveiro, com a consequente ligação ao Alfa Pendular para Lisboa. Além disso a ligação a Aveiro, permitiria a ligação a um importante porto Marítimo, o Porto de Aveiro.

A grande “batalha” para nós, acima de qualquer outra coisa, seria utilizar tudo o que estivesse ao nosso alcance, para conseguir chegar ao contacto com as agências de investimentos árabes e/ou fundos de investimentos árabes.

É isso que tenho andado a tentar fazer, mas torna-se mais fácil, se mais estivessem interessados e disponíveis para o fazer…

Paulo Santos
CT - Comboios Transmontanos S.A.


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Barragem do Tua: uma pedra sobre 'defunto' e um 'insulto'

A associação ambientalista Quercus considerou hoje que o início da construção da barragem de Foz Tua «simboliza» a «morte» da linha do Tua e de «todas as potencialidades do vale do rio Tua».

O primeiro-ministro, José Sócrates, lançou hoje a primeira pedra da barragem que, para a Quercus, «simboliza a pedra que se quer colocar em cima de um defunto aquando do seu enterro».

A associação refere, em comunicado, que a construção da barragem «viola a Directiva Quadro da Água, acaba com a linha do Tua e com a acessibilidade ferroviária ao Nordeste e irá afectar muito negativamente os últimos dois pilares de desenvolvimento da região de Trás-os-Montes e Alto Douro: a agricultura e o turismo».

Para a Quercus, «se as barragens fossem sinónimo de riqueza e emprego, esta região seria uma das mais ricas e teria das taxas de desemprego mais baixas da Europa», pelo número de empreendimentos que ali existem.

«A estimativa do custo do Plano Nacional de Barragens é de 7.000 milhões de euros a serem pagos pelos consumidores, em vez de um investimento em alternativas energéticas que custariam somente 360 milhões de euros para obter os mesmos benefícios em termos de protecção do clima e de independência energética».

O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) reagiu ao início da obra, afirmando que «não é com uma pedra que vão enterrar o vale e a linha do Tua».

O partido promete continuar «a lutar» contra o empreendimento e lembra, em comunicado, que «Foz Côa não se construiu e, no entanto, parte do paredão da barragem já estava erguido».

O PEV acusa o Governo de utilizar a «estratégia do facto consumado que visava e visa ainda inibir a mobilização e toda e qualquer decisão e posição contra esta barragem, dando-as como inúteis perante uma situação irreversível».

Os Verdes consideram, no entanto, que «esta primeira pedra não deixa de ser um insulto e uma afronta ao bom senso, ao interesse regional e nacional, ao património e à entidade cultural do povo desta região».

O partido entende ainda que «é uma afronta aos procedimentos legais e à transparência democrática, que estão a ser, em todo este processo, várias vezes lesados».

Mas está convicto de que «esta primeira pedra não é, por certo, um pilar da barragem e que debaixo da ponte de Foz Tua ainda vai correr muita água e que a luta de todos quantos se opõem à barragem de Foz Tua, na qual o PEV teve uma forte intervenção desde a primeira hora, continuará».

O PEV lamenta ainda «a afinação do coro dos autarcas do Vale do Tua, que, por alguns 'tostões' que ainda não estão garantidos e não passam de promessas no papel que facilmente são postas em causa em nome de qualquer crise ou défice, estão prestes a hipotecar o desenvolvimento futuro dos seus concelhos e da região».

Fonte:Sol/Lusa


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O caso do fecho de linhas férreas no Alentejo ou O triunfo do automóvel

Numa entrevista dada há alguns meses ao Jornal das Caldas, o presidente da CP, José Benoliel, interrogava-se sobre se relativamente a várias linhas férreas com procura reduzida em Portugal o transporte público rodoviário não seria o mais adequado para garantir a acessibilidade das populações por elas servidas.

Meses depois, encerrou ao tráfego nacional de passageiros mais uma linha no Alentejo (o Ramal de Cáceres) e o plano da CP para 2011 prevê o encerramento de mais uma, com o que ficará a sobrar, como ferrovia da região aberta ao transporte de passageiros, o que resta da Linha de Évora, o que resta da Linha do Alentejo e a Linha do Leste.

Aquele tipo de argumentação não é novo: há duas décadas, serviu de base à supressão do serviço ferroviário de passageiros em inúmeras linhas férreas portuguesas, entre as quais a maior parte das linhas alentejanas. A maior região portuguesa (que ocupa mais de um terço do território continental) ficou reduzida a uma oferta ferroviária mínima.

Passando-se por cima da enorme degradação do serviço prestado, dizia-se, há duas décadas, que o despovoamento crescente desta região conduzia naturalmente a um esvaziamento da procura do transporte ferroviário, que teria deixado de constituir um modo de transporte adequado para a nova realidade alentejana: o despovoamento e a consequente diminuição do fluxo de passageiros na região tornariam muito mais adequado o autocarro e, portanto, havia que substituir a oferta do obsoleto transporte público ferroviário pelo transporte público rodoviário, que deixaria as populações mais bem servidas.

Várias linhas férreas (ou troços de linhas) foram encerradas ao tráfego de passageiros no Alentejo interior em 1 de Janeiro de 1990: o Ramal de Portalegre (Portalegre – Estremoz), a Linha de Évora (troço Évora – Estremoz – Borba – Vila Viçosa), o Ramal de Reguengos de Monsaraz (Évora – Reguengos de Monsaraz), o Ramal de Moura (Beja – Serpa – Moura), o Ramal de Mora (Évora – Arraiolos – Mora) e o Ramal de Montemor-o-Novo (que permitia a ligação desta cidade às de Évora e de Beja e à restante rede)
[Acresceu, no Alentejo litoral, o encerramento do Ramal de Sines (que servia as cidades de Sines e de Santiago do Cacém) e ainda a supressão do serviço no Ramal de Vendas Novas, este servindo também o Ribatejo].

O fecho do serviço ferroviário foi, em todos os casos, acompanhado da implementação de um serviço de transporte rodoviário alternativo – que, todavia, duraria muito pouco tempo, tendo sido rapidamente abandonado.




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Descubra Portugal enquanto há comboio

A CP é uma empresa surpreendente. Convida-nos, através de spots publicitários, a dar "uma escapadela com amigos e descobrir Portugal de comboio", como competente agência de turismo. E, ao mesmo tempo, continua a fechar linhas. Uma a uma, sem complacências a ajudar ao despovoamento.

Apresse-se, pois, se tenciona responder ao desafio da ferroviária portuguesa e partir à conquista do país ao som do pouca-terra, pouca-terra. Tanta é a pressa de excluir troços ferroviários que o gestor do site da CP, por certo, dificilmente acompanhará o ritmo. Na página online da companhia, o visitante é induzido em erro. Não existem nove propostas, como diz, "À descoberta de Portugal a bordo do comboio regional". Eram nove, agora são oito. No ramal de Cáceres, em Portalegre, o comboio deixou de apitar no primeiro dia de Fevereiro. Motivo: falta de rentabilidade. A nona proposta turística, que transportava o viajante a Castelo de Vide e Marvão, fica para a história.

Como para o estudo da arqueologia industrial ficarão alguns dos mais belos troços ferroviários portugueses. Corgo, Tua, Tâmega, Barca d'Alva... e outros se seguem certamente. Fica o interior do país mais abandonado, isolado, de solidões com menos acessos.

Serão estes cortes uma inevitabilidade? Não haveria outra solução: ao invés de encerrar, tornar estas linhas atractivas, verdadeiras alternativas ao automóvel?

O caminho parece ser outro. Há muito tempo, é certo, não ouvimos os políticos a dar qualquer sinal de preocupação com a despovoamento que devasta o país. Isso também faz parte do passado. E assim se avança. Fecham urgências hospitalares, fecham serviços de atendimento permanente, acabam os comboios. Até que não reste ninguém a morar por esses sítios. Quando a CP - empresa do Estado, da qual se espera um serviço público - fechar as linhas que dão prejuízo, fica no ponto para mudar de mãos. Quem a comprar não terá, seguramente, de prestar qualquer serviço público - o objectivo será mais prosaico, o lucro.

P.S. Nem só o interior é alvo do desmantelamento da CP. A linha de Leixões, pensada para transportar 2,9 milhões de pessoas por ano, fechou. Sem que a estação que lhe daria sentido (no hospital de S. João) chegasse sequer a nascer.